O Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança tem o prazer de acolher e organizar o congresso SIBE+20 que decorrerá na Universidade de Aveiro, Portugal, entre 20 a 23 de Outubro de 2021.
O SIBE+20 inclui os seguintes encontros científicos:
· 16º congresso SIBE
· 11º congresso IASPM Espanha
· 4º congresso de Músicas Populares del Mundo Hispano y Lusófono
· 3º congresso do Comité Nacional de Espanha do ICTM
· 2º congresso do Comité Nacional de Portugal do ICTM

Alinhado com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e com os Objetivos do Milénio assinados pelas Nações Unidas, o congresso SIBE+ 2021 propõe abordar a investigação em música e dança como práticas de responsabilidade social e política a partir dos seguintes temas:

Sons, territórios e consciência ecológica

O estudo do som tem gerado nas últimas décadas uma ampla e produtiva discussão sobre a representação acústica dos espaços e dos lugares, sobre as complexas mediações tecnológicas ou sobre as relações do som com objetos e instâncias não humanas. Toda esta dinâmica estimulou novas estratégias e campos de conhecimento. A crítica ao ‘visualismo’, por exemplo, abriu as portas a um entendimento aural, sensível e permeável do fenómeno sonoro nas diversas culturas humanas ou na ecologia entre seres. Por um lado, a íntima relação som, espaço e lugar apela a um ‘conhecimento acústico’ das práticas auditivas, ou seja, a um entendimento da sua ressonância (relacionalidade e interconectividade) no ambiente, nos seus recursos e na matéria vibrante. Por outro lado, as tecnologias de mediação do som alargam à escala planetária a complexa interação entre humanos e também dos humanos com os agentes não-humanos. Este tema convoca à apresentação de trabalhos que reflitam sobre o modo como o som pode constituir um instrumento de conexão e de mediação para o equilibro do planeta, seja através de uma abordagem acustemológica – tal como sugerido por Steven Feld – seja a partir das propostas da ecomusicologia e do seu compromisso com um planeta sustentável através do som.

Novas demografias, convivência e vulnerabilidade social

Um dos problemas emergentes do início do terceiro milénio envolve a gestão de novas alterações demográficas. Crescimentos acelerados de populações acompanham o forte envelhecimento de outras – sobretudo na Europa – ao mesmo tempo que movimentos migratórios cada dia mais intensos, decorrentes de situações de instabilidade política, derrubam a interdição física das fronteiras em busca da paz, do bem-estar e da sobrevivência. Estes processos estabelecem formas de convivência particulares, confrontam gerações, religiões, línguas, e modos de ver o mundo, e são potencialmente geradores de injustiças e outras violências, conduzindo a situações sérias de vulnerabilidade social. Até que ponto a música e a dança podem atuar como agentes de superação de potenciais desigualdades decorrentes de situações de vulnerabilidade social? É possível encontrar na música e na dança formas de saber que ajudem a redesenhar demografias? Que papel tem a investigação em música, e a etnomusicologia em particular, perante os dramas humanos que as novas demografias fomentam?

Música, arquivos e digitalização da memória

O termo “arquivo” tem vindo a ser objeto de redefinições e profundas críticas desde, pelo menos, os finais da década de 1990. A conceção de arquivo como uma instituição que alberga documentos ou como um conjunto de documentação oficial tem dado lugar a conceções que o associam, entre outras coisas, ao colonialismo, ao discurso, à ideologia, à política, à imaginação ou ao desejo. Esta mudança de paradigma, conhecida como archival turn, emerge em diferentes disciplinas, em particular no domínio da filosofia, da arquivística, da antropologia, dos estudos dos média e da história. De um modo geral, os debates tendem a abandonar a ideia de arquivo como o lugar da memória e da evidência e a pensá-lo como o lugar onde se cria conhecimento e enquanto superfície na qual é possível observar e identificar as forças que constroem o saber. Estas novas ideias geraram uma profusão de problemas éticos, epistemológicos, administrativos e institucionais. Este tema convoca a refletir sobre as consequências desses problemas nas investigações sobre música e dança, na gestão de dados e na sua condição digital e deslocalizada, assim como nas políticas institucionais dedicadas a conservar e gerir registos sonoros e não sonoros que são pertinentes para as diferentes expressões da etnomusicologia, da etnocoreologia e de outras disciplinas afins.

Artivismo, espaço público e redes sociais

Num mundo cada vez mais conectado através de plataformas digitais, o ativismo através da arte – onde se inclui a música, a dança e outras expressões a elas associadas – tem vindo a ganhar cada vez maior relevância como propulsionador de atos de resistência, intervenção social e contestação política. Diferente das relações entre arte e ativismo político do passado, o artivismo é hoje um movimento indissociavelmente ligado ao fenómeno das redes sociais e da ocupação de espaços públicos, numa triangulação onde os aspetos sónicos parecem ter lugar privilegiado. Trata-se de um terreno fértil para o campo dos estudos em etnomusicologia e dos estudos de dança, que nos conduz a questões como: de que forma a música, a dança e os sons são utilizados como ferramentas para a articulação de movimentos de intervenção política através das redes sociais? De que forma se articulam atores sociais, artistas, movimentos políticos e ideológicos em torno de estratégias artísticas, simbólicas e/ou estéticas que tenham como objetivo realçar causas e reivindicações sociais? Até que ponto a web se transformou num facilitador para a criação de movimentos sociais de base artivista?

Queer-activismo, feminismo e novas masculinidades

De entre muitas possibilidades, a música e a dança definem, também, cenários privilegiados para disputar identidades de género. Graças à dimensão performativa da música e da dança, homens, mulheres, travestis, homossexuais ou transexuais, têm afirmado ou desconstruído o seu modo de estar no mundo. No século XXI, fenómenos musicais como o regetón ou a cumbia villera, têm sido demonizados devido ao uso de letras consideradas misóginas ou violentadoras, enquanto que outros géneros e estilos musicais são celebrados como meios extraordinários de empoderamento para grupos eventualmente subalternizados.  Neste tema, queremos discutir o modo como a música pode, por um lado, promover uma determinada consciência de género e, por outro, contribuir para a reprodução de formas de violência simbólica e física contra coletivos concretos.

Responsabilidade social em educação a partir da música e da dança

A pluralidade das práticas de som e movimento, dos modos, dos estilos e dos processos de ensino-aprendizagem e de transmissão de saberes, está também expressa nas investigações que articulam etnomusicologia, educação, música e dança. Mediante a investigação etnográfica e a convivência no trabalho de campo, é frequente reconhecermos também que saberes em música e dança envolvem uma complexidade de técnicas, afetos, valores, identidades, e outras questões diretamente ligadas à vida económica e política de pessoas e coletivos. No conjunto das preocupações profissionais com o trabalho educativo, cresce agora a atenção ao avanço de forças antidemocráticas, em sociedades interligadas digitalmente, e suscetíveis a discursos de autoritarismo. Como podem as investigações em música e dança incorporar e fomentar um sentido ampliado de responsabilidade social? Ao articular as disciplinas referidas, como agimos diante da diferença epistémica/estética e das desigualdades de poder entre comunidades/práticas/setores de uma população?

Práticas patrimoniais e sustentabilidade

As práticas patrimoniais são omnipresentes na modernidade tardia. Nas últimas décadas, os estudos interdisciplinares dedicados ao património e aos seus modos de produção aumentaram exponencialmente, em articulação com ou acompanhando o boom da patrimonialização que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Tal como os estudos críticos têm vindo a demonstrar, o património – seja ele gerido por organismos estatais nacionais, por agências internacionais como a UNESCO, pela indústria do turismo ou por outras instâncias – é um modo de intervenção e um processo transformador que tem tido um grande impacto sobre indivíduos, comunidades e as suas práticas culturais.

Este tema convida à reflexão crítica sobre questões centrais associadas às práticas patrimoniais, com foco na música, dança e outros modos expressivos relacionados. As contribuições podem explorar aspetos como: discursos e práticas patrimoniais; regimes patrimoniais nacionais e internacionais e seu impacto, em particular o paradigma de património cultural imaterial da UNESCO; direitos culturais; os usos do património como instrumento político e recurso económico; tensões entre as reivindicações universais sobre o património e as perspetivas nacionais, regionais, comunitárias ou dos grupos étnicos ou indígenas; os usos do património pela indústria do turismo; o impacto do património na sustentabilidade das comunidades locais e das suas práticas.

As línguas oficiais do congresso são: Português | Espanhol | Inglês

Oradores convidados

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O evento tem um livro de reclamações sito na secretaria do Departamento de Comunicação e Artes (DeCA), Universidade de Aveiro. The event has a book of complains which is located in the Department of Communication and Art (DeCA), University of Aveiro.